Profissão Office boy


Moscouzinho
Comecei a trabalhar com 14 anos em uma Corretora de Câmbio no Centro de São Paulo. O proprietário da empresa era vizinho do meu pai e me contratou, na amizade, como Office Boy (Ver posts Moscou - 1987 e Idade - 14 anos). Naquela época existiam 2 tipos de Office Boy: o de rua, que andava de ônibus o dia inteiro ou camelava pelo centro de SP, e o de escritório, mais famoso como Contínuo, um pouco mais chique e que realizava na maioria das vezes serviços internos.

- Alemãozinho! Preciso que entregue esta documentação em Pirituba. – Ordenou o chefe dos Boys...

- Mas seu Adilson, são quase 15:00 h. e o expediente só vai até as 17:20! - Choraminguei sem sucesso...

Grandes merdas... tinha que ir... e eu fui, que nem uma bala. Eu já conhecia o lugar, caminho, ônibus que iria tomar e até onde era ponto que deveria esperar a bumba... na Rua Xavier de Toledo, ao lado do extinto "venha correndo" Mappim e próximo ao "eterno em reformas" Teatro Municipal.

Rapidamente atravesso o Viaduto do Chá e quando viro a esquina vejo o busão chegando e a apenas poucos metros do ponto. O semáforo estava fechado e alguns carros aguardavam parados à frente do coletivo. Percebi que não havia ninguém aguardando a chegada do ônibus e que este não pararia para poder aproveitar o sinal aberto. Apressei-me no encontro dele e me posicionei na porta de trás. Sim, naquela época ainda se entrava pela porta de trás, e mais, quando o ônibus chegava no ponto final todos desembarcavam e caso desejassem seguir viagem no mesmo coletivo tinham que pagar a passagem novamente. Isto para um Office Boy significava uma rica parte do salário.

Dei 3 soquinhos na porta para que o motorista abrisse. Ele olhou pelo retrovisor... e me ignorou. Bati mais 3 vezes na porta... ele olhou de novo no retrovisor e apontou para o ponto de ônibus que estava a alguns metros à frente, e... sumiu do retrovisor. Eu ainda conseguia ver apenas parte de seu ombro.

- Filho da puta. Tá de sacanagem!

Isto era normal. Os Office Boys tocavam o terror na busanga, então os motoristas e cobradores descontavam da maneira que podiam, passando direto nos pontos de ônibus ou fazendo isto... só liberar a entrada quando a porta de trás chegasse exatamente no ponto.

Acontece que eu não podia perder aquela chance de ouro. Com aquela partida eu poderia sair no horário do trabalho (Picar o cartão às 17:20 h.) e ainda chegar a tempo para a aula noturna do Colégio. Decidi então tentar novamente. Dei mais 3 socos no vidro da porta de trás... o motorista apareceu de novo no retrovisor, ficou me olhando, mas não abriu a porta... Comecei a gesticular bastante e a falar, sem emitir nenhum som, para que ele abrisse a porta pra eu entrar... mas o motorista motorista voltou a sumir do retrovisor, completamente.

Fiquei puto. Novamente bati na porta do ônibus, só que agora com a palma da mão aberta, com força. Parecia que o vidro da porta quebraria tamanha foi a violência das pancadas... Desta última vez o motorista nem mesmo apareceu no retrovisor, porém a porta se abriu. Entrei triunfante, como se tivesse vencido uma batalha...

- É isso aí caralho... se não abrisse eu arrombava... – Entrei falando grosso, mas bem baixinho.

Estranho. Todos me olhavam assustados, ou seriam curiosos? Sei lá... passei por alguns bancos... um cara me olhou e eu esbravejei...

- É foda, né?

Ele deu com os ombros sem dizer nada. Sentei-me bufando, tipo,” tô nervoso”, “não mexe comigo!”.

O ônibus então deu partida, andou os poucos metros que faltava para chegar ao ponto e parou... Pensei:

- Cassete, todo este mico e o busão parou pra pegar alguém. Não precisava nada disto.

De repente todos começaram a se levantar, passar a catraca e descer do ônibus... e eu lá... sem entender nada.

- Vamos moleque, vc tem que pagar e descer – Disse o cobrador, gesticulando e apontando a roleta.

- Porquê? – Perguntei indignado e já afrontando sua autoridade.

- Porque aki é o ponto final!

Abraço



Thanks: Kátia



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