Criminosos de olho na cadeia de suprimentos


O crime encontrará uma forma de compensar a receita perdida


Com a pandemia, o transporte diminuiu, consequentemente as taxas de roubo de carga caíram ao redor do mundo. Porém, à medida que os países forem diminuindo as restrições, os roubos de carga voltarão com força! 
Tivemos a queda no roubo de carga nos primeiros meses da pandemia, contudo já se percebe um aumento nos ataques a partir de junho de 2020.

O COVID-19 trouxe à tona vulnerabilidades e falta de preparo da empresas... e os criminosos perceberam. Por exemplo, os bloqueios pandêmicos exigiram que caminhões ficassem presos nas fronteiras por mais tempo, assim como os motoristas tiveram que fazer paradas de descanso não planejadas, colocando mercadorias em risco. 

Na Europa, em 2019, 40% dos roubos de carga ocorreram em áreas de descanso, e o estacionamento inseguro foi responsável por 14% das ocorrências. Estes desvios colocam em risco as estratégias de mitigação cuidadosamente desenvolvidas. 

A redução de custos ao longo dos anos concentrou a cadeia de suprimentos na China e abandonou as redundâncias de proteção. Redirecionar o produto em regiões desconhecidas ou com paradas não planejadas, trouxe riscos em ambientes novos e inesperados. E, os criminosos se adaptam mais rápido do que as organizações. 

Não se engane: Os criminosos também são gerentes de risco! Eles administram recursos e dinheiro na execução de um crime... e o risco é a prisão. Roubo de carga tem baixo risco punição, em contrapartida, lucros substanciais. Isso torna o roubo de carga atraente. Quando os roubos são multinacionais, as investigações não avançam, surge a dificuldade de entendimento e consolidação das informações, o que torna o risco de captura baixo para os ladrões. 

Nem sempre itens de maior valor agregado são visados. Depende da demanda e da liquidez. Por exemplo, em abril de 2020, um empresário espanhol roubou aproximadamente 2 milhões de máscaras faciais de um armazém e vendeu em Portugal. Isto seria improvável antes da pandemia. Outra frente são os produtos roubados que podem ser facilmente vendidos em lojas online, por preços acessíveis, onde ganham um ar de legitimidade. 

As perdas vão além do custo da carga, pois temos o frete, substituição do produto, investigação da perda, vendas perdidas, desgaste com o cliente, veículos danificados, trabalhadores feridos e outros fatores. 

Aproximadamente 70% do roubo de carga está associado ao envolvimento interno, seja intencional ou não. É de conhecimento a facilidade com que o crime obtém informações sobre o transporte ou a carga. Muitos trabalhadores na logística são temporários e de baixa remuneração, alvo fácil de criminosos. Informações sobre inventário, rotas de carga ou datas, são compartilhadas em troca de dinheiro rápido. Criminosos ainda infiltram empregados em troca de informações.

Informações sensíveis possibilitam encontrar os elos mais fracos e onde você não está preparado. A nova era de trabalhadores flexíveis dificulta avaliar o comprometimento com a empresa, e isto vale para qualquer um em sua cadeia de suprimentos. Os insiders podem ir além, em esquemas de auto enriquecimento, carregar produtos a mais, desviar carga ou receber propinas no direcionamento do transporte para determinado subcontratado. 

Infelizmente, as vulnerabilidades estão aparecendo mais rápido do que você pode controlá-los, e a desculpa do “custo do negócio” (Ineficiência da cadeia de suprimentos, perda de mercadoria no transporte, etc.) não cabe mais nas operações. O risco pode ser de danos substanciais, não em centavos. 

Os danos à reputação, dentro e fora da empresa, a ameaça de falsificação, adulteração ou danos de produtos sensíveis, como produtos farmacêuticos, pode afetar substancialmente a empresa. Tudo isto exige uma abordagem investigativa mais profunda. Mas isto é demorado, oneroso e a maioria das empresas não possui recursos, principalmente durante uma crise, onde o foco é para que as cadeias de suprimentos voltem a funcionar. 

O aumento das compras online colocou pressão nas entregas, que se tornaram um alvo de ladrões e oportunistas. Muitas pessoas perderam empregos, porém a necessidade de colocar comida na mesa ainda existe... e nesta esteira de opções, podem surgir pequenos delitos. Cada risco depende da situação econômica da região e da demanda de produtos. Os telefones celulares são alvo atraente em todos os lugares, mas itens mais básicos podem apresentar maior risco. É uma relação entre a disposição de cometer crimes, facilidade na venda dos produtos e interesse do mercado. 

Como boas práticas, as empresas estão revisando seus planos, avaliando se devem armazenar ou fabricar produtos em regiões de maior risco, discutindo redundâncias necessárias e o que fazer se um carregamento parar ou der errado... ser resiliente. E ir além... analisar quais ações governamentais locais e nacionais se alteraram. Por exemplo, mudar de estrada para trilho, tanto quanto possível. 

Estratégias e medidas de segurança podem ser úteis, e incluem a redução dos turnos noturnos em regiões com frequentes ocorrências e evitar áreas de risco. Uso de escoltas armadas para caminhões, rastreamento por GPS e outras tecnologias, mudança contínua de rotas e horários, podem reduzir o impacto nas operações. A agilidade mostrou-se essencial. Alternar diferentes instalações, redirecionar carregamentos e ajustar cronogramas, trariam de volta operações mais rápidas e seguras. 

E ainda, a troca de informações de risco e transparência com empresas concorrentes, são valiosas ao setor. Ações como auditar seus fornecedores e incluir programas e requisitos de segurança nos contratos, são benvindas. Em geral, focar em pessoas, tecnologia e procedimentos. 

A organização está preparada para outra pandemia?

A inteligência de segurança é fundamental aos negócios, portanto prever o que vai acontecer (Fechamento da fronteira, greves, bloqueios de estrada, etc.), possibilita tempo suficiente para ajustar as operações e mitigar riscos. As empresas precisam confiar em seus parceiros. Ter fornecedores que levem o produto do ponto A ao B com segurança, intacto e em tempo hábil. Mas os parceiros não são apenas os fornecedores. Contratar e reter os motoristas e funcionários certos ajudam a manter os produtos a salvo de adulteração, roubo e perda. 

Processos para acompanhar as entregas em tempo real e sistemas de identificação do produto, como número de série, auxiliam na identificação dos produtos de furto espalhados pelo mercado. A tecnologia GPS é comum na indústria de segurança, mas os criminosos reagiram e estão utilizando dispositivos de interferência e outras medidas para contornar as ferramentas de prevenção de perdas. 

Por fim, temos que ser flexíveis, ágeis, melhorar nossa capacidade de prever o que vai acontecer e, sempre, ter um plano B.



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