ATARI - Um convite à inocência



Moscouzinho
Tive uma infância pobre até uns 8, 9 anos de idade. Não que passávamos fome, longe disto, mas arroz, feijão e jiló rolava direto. Fiquei tão traumatizado com legumes que somente após os 30 anos voltei a comer alguns deles. Chuchu e o tal do jiló, jamais. Tipo, tomávamos coca-cola somente no domingo e não era a de 2 litros que aliás nem existia; 1 litro (garrafa de vidro) para os quatro (Pai, mãe, irmã e eu). Até hoje fico impressionado como as crianças recusam facilmente doces, salgados e refrigerantes oferecidos. E percebe-se que não é por educação. Na minha época, primeiro recusávamos por educação... na verdade se aceitássemos minha mãe fuzilava a gente. Na boa, se deixasse, eu matava uma coca litro em alguns segundos e não era por ser esganado, é porque não tínhamos acesso a este tipo de “privilégio”.

Lembro que íamos à feira todas as quintas e que comer pastel sempre foi um “evento”. Um para cada um e sem a certeza que isto aconteceria na próxima semana. Aliás, quando digo um para cada um, exclua meu pai e minha mãe, já que quase sempre a grana não dava pra comprar pra todos.

Antigamente o pasteleiro entregava o pastel envolto em um tucho de papel, umas cinco ou seis folhas grossas, nada absorventes, que protegiam o cliente do óleo quente. Era realmente uma quantidade exagerada de papel, acho que os consumidores tb o utilizavam como guardanapo, sei lá. Fato é que, por gostar tanto de pastel e não ter aquele alimento com a freqüência que desejava, eu costumava, enquanto comia o pastel, comer o tal papel tb... não todo, mas boa parte... para dar mais sustância ao alimento. Que dureza...

Tenho a percepção de que os pastéis da época tb não eram do tamanho dos de hoje. O preço eu não sei, mas em tamanho eram menores, ou será que penso assim porque tínhamos que dividi-los com o pappi e a mammy? Pode ser... Não esqueçamos do caldo de cana, constituído de um copo pequeno para os 2 filhos e olhe lá. E toma bicadinha pros pais, de novo.

Voltando... a situação mudou bastante quando minha mãe começou a ganhar dinheiro com sua recém inaugurada oficina de costura, porém como toda criança, eu não notei as mudanças financeiras que minha família passava e, sinceramente, não me preocupava com as nossas limitações... éramos felizes! A situação era tão preta que mesmo ganhando bem meus pais demoraram alguns anos pra ficar numa boa. Curiosamente, apesar de ser ainda menino, sempre entendi que meus pais não tinham condições de nos dar alguns objetos de desejo tipo Ferrorama, Autorama, Pégasus, e o mais cobiçado de todos: o Vídeo Game.

Antigamente só se ganhava presente em Natal e aniversário; dia das crianças às vezes. Se vc perguntar para pessoas com idade acima dos 30, sobre os brinquedos que marcaram a sua infância, provavelmente eles te dirão no máximo uns 3. Isto porque, pelo menos no meu caso, ganhava-se em média 1 por ano. De uns tempos pra cá esta identificação terminou devido ao grande acesso a brinquedos de hoje em dia. Meu filho, por exemplo, toda semana ganha pelo menos 1 no Mc Lanche Feliz. Temos dificuldade em comprar um presente que agrade ele porque além de ter de tudo, os amigos e parentes tb o presenteiam bastante, graças a Deus, diga-se de passagem.

Retornando à minha infância... soube que existia um jogo que não era caro e que atendia minhas necessidades, o TELEJOGO. Tosco até a raiz da alma, mas que se encaixava totalmente meus desejos. Veja bem, meu vizinho tinha um ODYSSEY (O mais completo na época), porém o TELEJOGO já me bastava. Fui então até uma assistência técnica que existia na região e o cara me ofereceu um destes com 10 jogos. Se liga, 10 jogos! E com um valor que talvez meu pai conseguiria pagar, pois era um aparelho usado e tal. Perceba, 10, 11 anos de idade e fazendo pesquisa de mercado, que bonitinho.

Cheguei em casa, meu pai cansado do trabalho e sem muita paciência, ouviu minha proposta e, sem dar muita atenção, disse que pensaria no assunto. Um balde d’água fria, porém esperado. Cheguei a retornar à loja algumas vezes só pro cara da assistência técnica mostrar como o brinquedo funcionava... mentira, era pra jogar um pouquinho, dava dó gente. Passaram alguns dias e eu comecei o processo de conscientização da realidade, ou seja, esquece!

Deus é pai e, com permissão do trocadilho, neste episódio meu pai mandou muito bem. Certa tarde cheguei da escola e, espalhado na sala, lá estava um ATARI! Repito, um ATARI! Eu esperava uma bicicleta velha e meu corôa comprou uma Mercedes novinha! Desculpem, mas não é possível descrever neste texto minha alegria naquele momento e o que aquele presente significou para este então garoto.



Pergunta: Por quê eu disse Mercedes e não Ferrari? Veja bem, tb não é assim, na verdade meu pai comprou um DACTAR, um cover do Atari, que custava uns 30% menos, mas que cumpria exatamente as mesmas funções, inclusive era totalmente compatível com os “cartuchos” do Atari. Lindo!

Hoje meu filho joga PS2, controle sem fio, em uma tela de 40” e com o Home Theater arrebentando atrás da cabeça dele, ou se ele preferir acessa games on-line no computador, dele... e tem TV, DVD, Som, no quarto, dele... Pára! E olha que não somos tão bons assim de grana... é só analisar um pouco a sua vida que vc tb vai perceber quanto luxo vc tb tem. Acho que o desafio dos pais atualmente é encontrar o que motiva estas crianças e utilizar isto como “cenourinha” para tentar atingir uma educação melhor.

Neste fim de semana passei na Santa Ifigênia e o que eu encontrei? Um jogo para PS2 com algumas raridades do Atari, uns 20 jogos em um único DVD. Comprei na hora! Coloquei o emulador pro filhão conhecer os games da infância do pappi, e adivinhem? Ele adorou, fui colocando um por um e...

- Pai, coloca aquele do aviãozinho de novo!

Os caras ainda colocaram uma trilha sonora de fundo, sem perder os efeitos do jogo, com vários sons dos anos 80. Neste vídeo está rolando "Take me on - A-HA". E melhor, as músicas não param quando vc troca de game. Ficou tudo de bom!

River Raid: O mais famoso. Eu adorava, mas não era tão bom, acho que meu recorde foi 25.000.


Space Invaders: Pasmem, este minha mãe que adorava.
Xan... põe o das navezinhas!!! - Dizia ela.


Enduro: Arregaço. Fiz 13 bandeiradas. Não conheci ninguém que chegou perto disto, porém fui jogar agora e quase não passei da 1ª bandeirada. Que vergonha!


Pac Man: Nunca gostei.


Missile Command: Virei o marcador. 1 milhão. Tive que desligar pra ir pra escola.


Galaxian: Sempre gostei, mas preferia o das máquinas de fliperama.


Moon Patrol: Pagava um pau, mas não tinha o cartucho.


Hero: Muito louco. Eu era fraco. Joguei hoje e... continuo fraco!


Frostbite: Este meu tio tinha, ou melhor, tinha a placa sem a capa do cartuho, mas funcionava assim mesmo.


Demon Atack: Pouco conhecido, mas eu gostava. Minha mãe dizia que era o dos "morceguinhos".


Pitfal: Chato. Ganhei o cartucho de presente do pappi. Eu até que ía bem.


Smurfs: Ridículo. Não tinha, não gostava e não jogava. Sempre achei de bichinha.
X man: Tinha que ter sacanagem, né? Não é lenda. Existiu. Subversivo. Eu peguei emprestado e joguei várias vezes. Era o tipo de jogo que a molecada adorava. Pena que não passei da segunda fase, ou seja, só conheci duas posições. O jogador tinha que mexer o boneco pra frente e pra trás rapidamente, tipo punhetando o controle. Quando o cara chegava nos finalmentes a tela explodia e vc passava de fase. Era meio sacal. Ah! Tinha até uma tesourinha que corria atrás de vc por dentro de um labirinto, estilo Pac Man... adivinha como o boneco morria?


Abraço



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