Mata a véia

Toninho & Ivete
Minha esposa é natural da cidade de São Carlos – SP e, lógico, a família dela é de lá. Nos tempos de namoro nos víamos apenas de fim de semana, as vezes ela vinha para São Paulo e eu costumava viajar bastante para São Carlos. Num fim de semana destes meu sogro resolveu quebrar o pau com minha sogra. Não que isto era fato incomum, pelo contrário, eles brigavam bastante, porém aquela peleja se mostrou muito diferente das demais.

Eu era Tenente do Exército e naquele tempo gostava de andar armado, porém nos primeiros meses poucos sabiam desta condição e meu sogro era uma destas pessoas. Eu achava que não deveria freqüentar a casa do homem sem que ele soubesse daquela condição existente; justo.
Minha mochila de viagem ficava guardada no quarto em que dormíamos e, como todo bom militar, eu procurava deixar a arma descarregada escondida dentro da bolsa, e a munição eu colocava em outra parte da bolsa para evitar os tão noticiados acidentes envolvendo armamento.
– Nossa! Ele escondeu dentro de uma bolsa! Quanta segurança!
Acontece que somente minha noiva e meu sogro sabiam da existência do armamento e além do mais, quem iria mexer nas minhas coisas? Aprendi da pior maneira.
Voltando à briga... estou na sala assistindo um filme (Novidade!) com minha sogra sentada ao meu lado no sofá. Meu sogro estava na cozinha, que não era tão longe assim, e ambos gritando um com o outro. O pau tava comendo solto. Não me recordo o nível da baixaria já que, além de ser uma coisa meio que comum entre eles, eu não dava a mínima para aquela situação. O curioso é que apesar de não me recordar que filme estava assistindo (pena!), tenho a impressão que estava muito bom.
Meu sogro de vez em quando vinha até a porta da sala e, como estava cozinhando, uma hora xingava com um pano de prato na mão, outra com uma cenoura, e às vezes com uma faca de manteiga, mas em determinado momento ele apareceu chacoalhando algo diferente de tudo que utilizara em todas as discussões anteriores...
- Qualquer hora eu faço uma besteira com isto aqui!
Eu estava tão entretido com a seção de cinema que demorei pra perceber que ele empunhava meu revolver Rossi calibre 38. Era uma arma muito pequena, potente, duas polegadas, cinco tiros, com munição jaquetada, e que eu costumava usar no coldre de tornozelo. Pra se ter uma idéia, certa vez fui a um rodeio e a segurança do local, mesmo me revistando, não encontrou a arma. Amadores.

Segue...
Sabe quando vc olha uma situação, ignora, e depois volta a olhar assustado? Então, foi deste jeito que eu reagi àquela cena. Rapidamente levantei-me do sofá e fui em direção ao meu sogro. Não como naqueles filmes em que o cara vai todo cheio de jeito para não ser alvejado, mas como um pai que vai pra cima do seu filho pra tirar algo da mão dele antes que faça besteira.
- Porra, sogro! Tá de sacanagem? – e tomando a arma da mão dele com relativa ignorância continuei...
– Sou Tenente do Exército, se vc fizer merda com isto aki eu tô fudido pela vida inteira!
Enquanto seus outros filhos e minha noiva comiam o toco do véio, eu fui até a cozinha e retornei...
- Tó... – entregando na mão dele a maior faca que encontrei na gaveta...
- Mata a véia com isto!
Abraço



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