Zé Tiroteio

 

Zé Tiroteio
Década de 90. Eram umas 3 da manhã quando entrei de carro na rua da casa em que minha mãe mora. Eu retornava de alguma casa noturna de São Paulo e me deparei com uma cena interessante. Meu tio, vulgo Zé Pulga, estava no meio da rua com uma pistola em uma das mãos e na outra ele chacoalhava um cara qualquer.

Meu tio mede aproximadamente 1,85 m de altura e este apelido foi conquistado ainda em sua juventude. Diz ele que por conta de suas extrapolias quando jovem. Não sei. Nunca gostei do apelido Zé Pulga e com o passar do tempo passei a chamá-lo de Zé Tiroteio. Toda a família aprovou... Acho que devido às histórias malucas que ele conta (e que eu sou fã!) ou a um caso em específico...

Lembro que ele guardava o carro na garagem, se não me engano um fusca, e em uma noite qualquer um vagabundo invadiu o local e acabou acionando o alarme do carro. Assustado com o barulho, o meliante evadiu-se rua abaixo. Rapidamente, porém ainda sonolento, o até então Zé Pulga, abriu a janela e começou a atirar na direção do bandido. Detalhe, ele abriu o suficiente pra colocar a mão para fora da janela e começou a atirar a esmo. Sem ver nada, sem apontar, sem noção! Passei a chamá-lo de Zé Tiroteio. Esta é uma das muitas histórias deste meu querido parente e que se torna agora personagem deste blog. Muitos sempre duvidaram dos feitos mirabolantes que ele conta, mas eu já presenciei alguns que levam a crer que ele realmente vivenciou muitos deles. Na maioria ele pode até ter aumentado um pouquinho, porém os que contarei nos próximos posts tiveram tb a minha participação...

De volta ao meio da rua... estacionei o carro e desci calmamente...

- Tio, que porra é esta? Solta o cara...

- Esse filho da Puta tava estuprando aquela moça ali! - E apontou para uma garota que estava sentada no meio fio... e que, ao me ver, começou a chorar.

O cara realmente aparentava ser um vida torta e a garota, bem, em poucos segundos eu percebi que se tratava da galiranha do próprio cara. A situação era muito clara pra mim, o cara aloprou com ela por droga, pinga ou alguma outra porcaria e acabou dando uns colas nela. Ela deve ter começado a gritar qualquer coisa pra não apanhar mais. Meu tio Zé costumava sair para conferir qualquer barulho na rua, consequentemente, entrou de gaiato na história e caiu no caô da maloqueira.

- Tio... ô meus Deus... solta o cara - pedi calmamente, já que este tipo de ocorrência era normal em nossa família e que nunca dava em nada...

- Não, esse cara é safado, não é menina? - e a garota só fingia que chorava...

O pilantra sentiu que meu tio estava sobre o efeito Tubaína, só pressão, e começou a dar uma de esperto...

- É maluco, solta aí, solta aí se não o bicho vai pegar...

Pra quê. O tio Zé soltou ele por 1 segundo, carregou a pistola, agarrou-o novamente e meteu a arma na cabeça do laranja...

- Agora cê vai pro saco, safado!

Fudeu. Pelo seu olhar ele realmente tinha a intenção de atirar. Nunca tinha visto meu tio daquele jeito. Totalmente descontrolado. Fui pra cima dele, mas com tanta cautela que até o malaco percebeu que estava por um fio. Foi neste momento que encostou uma viatura da PM...

- Opa Istivi! Cabo Alborgueti... e este é o Tenente Moscone! QAP...

Cassete, me fudeu. Olha minha carreira indo pro saco, aliás, com o tempo vcs verão que esta foi uma das muitas vezes em que ela esteve ameaçada. Lembram do post "Mata a véia"?. Parece que "grandes alterações" sempre me procuraram, mas uma "força maior" nunca deixou que elas me derrubassem.

A equipe de Papa Mikes era formada por um sargento e um soldado, o 1º era atarracado, baixinho, de bigode e extremamente calmo. O outro policial era alto, tipo parede, vestia sobretudo azul, usava a boina de lado, tipo Rota e parecia a fim de dar porrada em alguém. Ele tb não era de muita conversa e, da mesma forma que eu, ambos perceberam logo a situação...

- O que cê tava aprontando? - perguntou o soldado para o suspeito.

- Não fiz nada senhor... não fiz nada... e eu sou menor...

Pronto... Tomou um pé de oreia que deve estar zumbindo até hoje...

- Pensa que eu sou troxa pilantra. Menor? Cê vai sentir o tratamento pra menor. Vai pra dentro! - e colocou o cara "calmamente" dentro do xilindró.

Nota: não era menor porra nenhuma, ele só queira os respectivos privilégios até chegar ao DP e então ficar sob a asa do Delegado.

Enquanto isto eu e meu tio contávamos o que acontecera ao sargento, que permanecia lá, impávido colosso, sem dizer uma palavra até então. E agora, que o conhecia melhor, acrescento outra característica... ele era muito sinistro. O soldado retornou da viatura e pediu que a moça tb entrasse na viatura, no banco de trás. Meu tio, curioso, perguntou ao sargento o que aconteceria com o cara...

- Este aí nós vamos dar sumiço - respondeu o Sgt Batatinha com uma calma que até hoje me dá medo. E veja, o cara detido não estava ouvindo a conversa, logo, o militar não estava fazendo cena...

- Calma companheiro! - pediu meu tio com um tom de voz bem suave - Também não é assim, vc sabe como a corporação está queimada com este negócio do Rambo na Favela Naval (saiba mais)...

- Pode deixar, isto agora tá com a gente. Permissão Tenente - cumprimentou-nos apenas com uma rápida continência, entrou na viatura e sumiu na escuridão da noite.

Abraço



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